Como se tornar um influenciador digital?
Atuar como um influenciador digital vai além de apenas publicar conteúdo no YouTube ou em redes sociais. Consiste em formar um público fiel e nichado. Mais do que isso, é preciso tornar-se atraente para as marcas, o que exige uma postura profissional desde o início de sua trajetória digital.
Formulamos a seguir um passo a passo de como se tornar um influencer capaz de monetizar seu investimento de tempo nessa atividade. Não é um desafio fácil, mas, cumprindo essas recomendações, você aumenta as suas chances de ter sucesso.
#1 Encontre o seu nicho
A melhor sugestão que alguém poderia dar a você é começar definindo um nicho. Quem recomenda isso é ninguém menos que a Forbes, a principal publicação de negócios do mundo. Ela é uma espécie de Revista Exame americana. Eis o que diz a Forbes: “encontra algo em que você tenha real interesse e consiga trazer sempre coisas extraordinariamente novas. Seja um expert no assunto que interessa a essas pessoas”.
Perceba, então, que não se trata apenas de encontrar o nicho, mas de saber quais temas interessam àquele público.
Outra importante revista dos Estados Unidos, onde o marketing de influência nasceu, é a Inc. Magazine. Ela é a Pequenas Empresas Grandes Negócios de lá. Ao explicar como se tornar um creator, ela vai além. Diz que você não apenas precisa focar num nicho como precisa fazer parte daquele grupo de pessoas. “Não importa quanto conteúdo você cria e compartilha, se você não tiver a sua tribo, o seu conteúdo nunca será visto”.
Se você observar bem, muitos influenciadores são feitos à imagem e semelhança do grupo para quem eles falam. Ou seja, eles pertencem ao grupo a quem se dirigem.
Isso acontece com creators de qualquer porte. Por exemplo, Marcelo Vieira, do canal Aeromodelismo é Assim, é um microinfluenciador (11 mil inscritos em outubro de 2019), que, como o nome sugere, fala de aeromodelismo. No próprio vídeo abaixo, você percebe que Marcelo é aeromodelista. Faz parte da tribo para quem ele fala.
Há um detalhe conceitual que convém reforçar porque é importante. Você precisa focar num nicho mesmo, e nunca num segmento. Conhecendo o conceito, é fácil entender o porquê.
Existe diferença entre nicho e segmento. Na bibliografia básica de qualquer curso de Administração de Marketing, Philip Kotler e Kevin Keller explicam que segmentação diz respeito a grupos de pessoas classificadas por critérios um tanto genéricos, como região, faixa etária, classe social e outros. Portanto, quando uma montadora lança um produto voltado, por exemplo, para a classe C da região Sudeste, ela está tratando de um segmento.
Nicho, por sua vez, diz respeito a interesses específicos. Por exemplo, pessoas que gostam de tirar fotografia e, por isso, pensam em comprar uma máquina semiprofissional ou mesmo inscrever-se num curso para tirar fotos como hobby: isso é nicho. Note que não se trata de uma divisão demográfica, mas de um interesse específico — não importando a região nem a classe social.
Com perfil já com uma certa envergadura como canal, o Cezar Augusto Fotografia (140 mil inscritos em outubro de 2019) é focado exatamente nesse nicho, como o próprio nome sugere. Talvez por isso dê tão certo.
Estes exemplos reforçam a recomendação da Forbes de começar a sua jornada focando não em você, mas em quem está do outro lado: no público e no que ele quer ver. Ou seja, no nicho.
#2 Escolha um canal principal
Não encare isto como uma regra, mas como uma orientação. Afinal, não há fórmula. Mas há casos que nos permitem argumentar no sentido de que focar num canal principal é uma boa ideia.
A história tem mostrado que ficar marcado como youtuber, instagrammer, blogueiro ou podcaster é uma definição conveniente. Veja um exemplo: Whindersson Nunes, um dos mais populares influenciadores do Brasil é um youtuber. Suas outras redes sociais são muito fortes, mas historicamente serviram para impulsionar o seu canal principal, que é o YouTube. Com isso, tornou-se imbatível na plataforma de vídeos. Whindersson, portanto, não é um youtuber e um instagrammer e um facebooker e um blogueiros. É um youtuber e ponto final.
Em outras plataformas, é a mesma coisa. Podcasts, que agora estão em voga no Brasil, já consagraram, por exemplo, o time do Jovem Nerd. Ainda que eles tenham popularidade em seu blog e em outros canais, são imbatíveis no podcast.
Moral da história: quem tenta ser forte em todos os canais ao mesmo tempo acaba não sendo forte em nenhum.
O palestrante e, curiosamente, também influenciador digital Shane Barker reforça esta recomendação. Em um blog post publicado em fevereiro de 2019, ele foi enfático: “como influenciador, você precisa ter uma presença poderosa na internet. No entanto, isto não significa que você deva usar todas as plataformas sociais e distribuir seu conteúdo em todo lugar. Dependendo do seu nicho, algumas plataformas são mais adequadas do que outras para o seu conteúdo”.
Escolha, portanto, o chamado core channel e seja imbatível nele. E use os demais canais complementarmente para distribuir o conteúdo. E para ajudar o canal principal a ficar mais cada vez mais forte.
#3 Crie o conteúdo na sua área
A definição do que é conteúdo de qualidade é muito subjetiva. O que agrada a um nicho não faz o menor sentido para outro. É aí que o talento e a sensibilidade do influenciador entram em campo.
Alguns influenciadores divertem suas plateias. Outros inspiram. Outros educam. Outros simplesmente matam a curiosidade contando como foi sua rotina. A Forbes, já citada neste post, explica que existe apenas um aspecto comum a todos os conteúdos: eles precisam ter valor.
Neil Patel é um empreendedor online e não deixa de ser um influenciador também — ainda que seu modelo de negócios principal não seja o de vender sua marca pessoal para empresas de terceiros, mas de fomentar suas próprias empresas.
Em seu blog pessoal, Neil publica semanalmente conteúdos educativos extensos de boa qualidade. Recentemente, ele listou as nove características do bom conteúdo. Foram dirigidos para empresas, é verdade, mas servem perfeitamente para um influencer — em YouTube e Instagram, inclusive:
- Crie conteúdo original;
- Foque em conteúdo com chamadas fortes;
- Faça com que o seu conteúdo conduza a uma ação;
- Forneça respostas a perguntas comuns;
- Seja preciso e cite as fontes da sua informação;
- Crie conteúdo provocativo e que gere engajamento;
- Comunique-se melhor adicionando imagens e vídeos;
- Crie conteúdos curtos e pontuais.
- Atualize continuamente o seu site ou blog.
O mesmo post da Entrepreneur alerta para o fato de que muitos influenciadores optam pela criação de conteúdo baseado em curadoria. Ou seja, eles usam (ou recomendam) conteúdos de terceiros.
No Content Marketing World de 2019, principal evento de marketing de conteúdo do mundo, em Cleveland, nos Estados Unidos, o professor e escritor Scott Monty, de Detroit, fez uma comparação curiosa: “o acumulador apenas junta as coisas. O bom curador reúne as coisas e se importa com o que ele acumula. Mais do que isso, ele conta uma história com aquele material”.
Portanto, dependendo do perfil do influenciador, ele pode ser aquela pessoa atenta a tudo o que experts e empresas de um determinado setor publicam. Daí, então, faz o seu conteúdo com base naquilo. Isso é a curadoria.
Seja como curador ou como gerador de conteúdo original, a autenticidade é fundamental. Ou seja, você precisa ter uma personalidade própria e única.
Por fim, publique regularmente. Na língua inglesa, usa-se muito a palavra “consistência” para indicar a soma de um conteúdo não apenas denso e coerente, que é o significado dessa palavra em nosso idioma. Mas também para indicar que ele deve ser publicado regularmente.
Livros que tratam de conteúdo, como o “Conteúdo S.A.”, de autoria Joe Pulizzi, foi criado para ajudar pequenos empreendedores a criar conteúdo para suas empresas — e isso inclui influenciadores. Ele usa diversas vezes o termo “calendário editorial” para se referir a um simples cronograma de publicação de conteúdos semanais. E reforça a importância de não haver falha no cumprimento dessa rotina para que se tenha sucesso na formação do público, o que é elemento-chave na vida de um influenciador.
O “Conteúdo S.A.”, aliás, originalmente, se chama “Content Inc.”. É um best-seller da categoria de livros de negócios nos paíes de língua inglesa, como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália.
Em “Everybody Writes”, outro livro muito popular entre pessoas que se aventuram a produzir conteúdo fora das grandes empresas, a autora Ann Handley dá a mesma recomendação de publicar regularmente — ou “consistentemente”, na tradução literal do termo. Este livro ainda não está traduzido para o português, infelizmente, mas pode ser comprado para ser entregue no Brasil ou para leitura em Kindle.
Seja como for, encare o conteúdo de qualidade e publicado regularmente como um instrumento para a formação de um público nichado, que é o seu grande ativo — e seu grande patrimônio — como influenciador digital.
É a formação de um público que determina o seu valor financeiro como influenciador no mercado.
#4 Descubra formas de monetizar
Existe uma barreira entre criar conteúdo e fazer dinheiro — e ela precisa ser vencida por você na condição de influenciador digital.
A boa notícia é que existem variadas formas de ganhar dinheiro. A má notícia é que nenhuma delas é fácil. A notícia realista é que, para fazer dinheiro, você depende de ter formado um público fiel, como explicado no tópico anterior. Sem ele, você nem sequer deve se considerar um influenciador.
Nessa equação, outro elemento deve ser considerado: o volume de dinheiro que você é capaz de gerar. Justamente por existirem diversas formas de ganhar dinheiro, a questão não é exatamente se você vai conseguir gerar receita, mas quanto dinheiro você vai conseguir gerar para a sua jornada ter valido as horas dedicadas.
As formas mais comuns de monetizar a sua atividade são:
- Parceria com empresas. Você formou um público nichado e as empresas querem falar com ele. Elas vão, então, propor a você ações que podem ir desde parceria de conteúdo a remuneração pontual ou mesmo recorrente. As plataformas de marketing de influência medeiam essa relação.
- Publicidade online. Quando se torna parceiro do YouTube, você recebe pelas publicidades exibidas em seus vídeos. O próprio YouTube tem um tutorial que ensina como isso funciona.
- Venda de produtos e serviços digitais. Se você vende cursos, assinatura de conteúdo, livros, eventos, camisetas ou qualquer outra coisa, é uma boa ideia oferecer isso ao seu público.
- Marketing de afiliação. Se você não vende nada, pode vender produtos ou serviços de terceiros e receber uma comissão por isso. Como vão saber que foi você que vendeu? Pelo rastreamento do link. Ou seja, o vendedor sabe que o comprador veio da sua rede social ou site porque o link que você publicou era exclusivamente seu.
- Venda da sua conta. O Twelve Skip fez uma lista de alguns sites especializados em venda de contas. Em resumo, funciona assim: você cria uma conta como influenciador nichado, faz com que ela cresça e depois vende a conta a alguém interessado no público que você formou.
Você é influenciador ou microinfluenciador? Então,
esteja visível para as marcas porque isso é essencial!
Faça com que as empresas cheguem até você. Cadastre-se gratuitamente no Influency.me e seja encontrado para campanhas de influencer marketing.
#5 Comporte-se como um profissional desde o início
No começo de sua jornada, você vai naturalmente ser um influenciador minúsculo. Mais adiante, na sua primeira campanha, talvez você vá ter — com sorte — 5 mil seguidores. Diante de um Felipe Neto, que tem dezenas de milhões de inscritos em seu canal no YouTube, pode parecer que você não é nada. Engano seu. Com essa quantidade de seguidores, você já existe no mercado, sim.
Na escala apresentada no gráfico abaixo, há nano, micro, médio, macro e megainfluenciadores.
Já há algum tempo que os nano e microinfluenciadores vêm ganhando a preferência de marcas em algumas campanhas específicas. Não que eles sejam necessariamente melhores que os grandes influencers. É que, em determinadas situações, as empresas buscam nichos menores e visam ao maior engajamento. Nesses casos, funciona melhor trabalhar com um grupo maior de creators menores.
No entanto, muitas vezes a dificuldade que os times de marketing das empresas enfrentam é a falta de profissionalismo dos influenciadores de números mais modestos. Eles ainda não têm staff, como as grandes estrelas do YouTube e do Instagram, que já fazem fortuna com seus canais e montaram uma operação.
Por isso, se você adotar uma postura profissional desde o início de sua existência, a sua relação com as empresas que contratam creators para suas campanhas vai ficar muito mais fácil.
A Influencer Marketing Hub é uma das empresas mais reconhecidas nos Estados Unidos por agenciar influenciadores. Num post recente, ela afirmou que uma das desvantagens de trabalhar com influencers pequenos é o fato de que eles dão mais trabalho por duas razões: eles são muitos e demandam mais atenção.
Entenda, então, que o profissional de marketing (ou a agência) que está do outro lado não é seu fã. Ela tem um objetivo de marketing a cumprir e precisa de produtividade. Quanto menos tempo desperdiçar no relacionamento, maior a chance de querer trabalhar com você novamente no futuro.
Comportar-se profissionalmente não significa vestir um terno para ir à reunião nem falar português formal. Não é nada disso. A seriedade consiste em adotar boas práticas muito simples como:
- Ter certeza de que você entendeu aquilo que cabe a você fazer na campanha;
- Ler com atenção e tirar dúvidas antes de assinar o contrato ou termo de acordo para não haver confusão depois;
- Responder emails ou mensagens de WhatsApp com agilidade, pois não existe nada pior do que parceiros que somem;
- Cumprir o que foi combinado, respeitando os prazos estipulados, especialmente quando se trata de cocriação de conteúdo, muito comum em campanhas de marketing de influência;
- Cumprir o combinado também em relação ao período de publicação de hashtags, uma vez que elas são uma parte essencial das campanhas para as marcas;
- Ao final da campanha, prover à agência ou empresa que contratou você os números de suas redes sociais que tiverem sido combinados (com alcance, views, menções e outros), pois isso é importante para a marca mensurar o sucesso de suas ações;
- Se tiver sido combinada remuneração, emitir nota fiscal ou outro documento que viabilize o pagamento formal, como RPA (recibo de pagamento autônomo de pessoa física), porque nenhuma empresa vai fazer pagamento por fora, que é ilegal.
Esses hábitos já farão você ser percebido como alguém pequeno, o que não é um problema, mas com perfil profissional, o que é uma grande qualidade.
Se você se habituar a agir assim desde o início, o seu lado business estará em grande parte resolvido. Porque as marcas terão facilidade de trabalhar com você. A partir daí, o desafio é conseguir desenvolver bem o seu público, para que o business cresça também.
Takeaways
Para se tornar um influenciador digital, o ponto de partida é definir um nicho. É a partir dele que vem a escolha de um canal principal e de canais secundários. O conteúdo será o combustível da formação do ativo principal, que é o público. Uma postura profissional vai viabilizar a monetização do canal.